quinta-feira, 6 de março de 2008

A menina-que-já-foi-na-Polônia

(Os fatos aqui descritos podem ter sido levemente enaltecidos para maximizar efeitos narrativos. Qualquer relação com a ficção é pura realidade)

Quarta-feira, 19:30hs. Estaciono o carro em uma rua de casas simples, relativamente pouco iluminada. Não foi tão fácil chegar aqui, é um lado da cidade que eu quase nunca visitei - este, em particular, nunca. Um lugar esquisito pra mim. Enquanto fecho o vidro, observo uma senhora de idade avançado olhando-me fixamente pela janela de sua casa, onde estava eu em frente estacionado. Arrisquei um sorriso simples e recebi outro em troca. Até agora tudo bem.

Desço do carro e movo-me com a tranqüilidade e desconfiança de uma ovelha que passa perto da casa de um lobo velho, e aperto a campainha do lugar onde deveria eu ir, a fim de tentar melhorar meu sofrível alemão. O professor surge em poucos instantes, um homem alto, de cabelos levemente ondulados até os ombros, quase loiros, e óculos redondos. Ele lembra o suficiente de mim. Bom, bom.

Após alguns poucos minutos de conversa com o professor na porta, mais uma aluna chega. Trocamos algumas palavras introdutórias e subimos em direção à sala de aula. Lá, ocupamos lugares aleatórios e mais conversa. Mas o professor precisou ausentar-se um pouco, e pediu que conversássemos - em alemão. Antes de sair da sala ele soltou "ah, ele disse que quer estudar na Polônia". Observação interessante.

Mas a reação da jovem foi inesperada. Ela me pareceu genuinamente surpresa enquanto sonorizou um quase sem-querer e sem fôlego "eu também!". Explicou-me que havia conhecido diversos poloneses através de gostos musicais semelhantes em uma página da internet, e assim conversamos um pouco mais sobre o assunto "Polônia".

E foi no assunto "idioma" que eu descobri da menina-que-já-foi-pra-Polônia. Diz-se que existe uma menina em Natal que fez intercâmbio de pouco mais de um ano na Polônia, e que supostamente fala Polonês - e que, idealmente, está disposta a ensinar a outros que por algum acaso do destino estejam dispostos a aprender. Eu não sei se era a raridade da informação, a absurda coincidência de eu descobrir tal rara informação (justamente quando comecei a estudar Polonês sozinho), ou o fato de eu ter vindo para um lugar que me era tão estranho e passar pela coincidência absurda de descobrir tal rara informação... o que eu sei é que eu já estava procurando a maleta de dinheiro ao meu lado pra pagar o meu "contato".

Agora minha próxima missão é encontrar a menina-que-já-foi-pra-Polônia. Só o que sei é que ela surge na UFRN em algumas noites de lua minguante, mas só para aqueles que a procuram. Como dizem, "você não encontra a menina-que-já-foi-pra-Polônia, é a menina-que-já-foi-pra-Polônia que encontra você". E nem perca o seu tempo se você for um simples curioso. Os boatos dizem também que ela sente a motivação de seus futuros alunos, e se você não for digno, ela nem vai perder o tempo dela...

Na razie! Do zobaczenia wkrótce! =P

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Pare de pensar // Stop thinking

Seus pensamentos voaram. O tempo passava e ele se distanciava de tudo, mas se aproximava de todo o resto. Ele já havia feito isso antes, mas não havia realmente refletido sobre. E sobre o que se podia pensar? E o que podia ser a vida, se não um dia atrás do outro? Engraçado, isso também ele já pensara antes. Algo como uma "meta" falta de pensamento. A falta de pensamento sobre a falta de pensamento. E, por mais incrível e paradoxal que pareça, o pensamento sobre a falta de pensamento abre ainda mais pensamentos - e ainda mais falta deles. E o que fazer com tantos pensamentos e tanta falta de pensamentos misturados? Irônicamente, a solução é tentar esquecer o que se sabe e o que ainda não se sabe - cervejas e vinhos, que não nos faltem! E, claro... quando o seu cérebro está tão enrolado, é uma boa saída tentar enrolar o cérebro dos outros também.

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His thoughts flew. Time went by and he was getting farther from everything, but was getting nearer from all the rest. He had done that before, but hadn't really thought about it. And what could one think about? And what could life have been, if not one day after the other? Funny, that he also thought about before. Something like a "meta" lack of thoughts. The lack of thoughts about the lack of thoughts. And, as incredible and paradoxal as it may sound, the thought about the lack of thoughts opens yet mor thoughts - and yet more lack of them. And what to do with so many thoughts and so many lack of thoughts mixed? Ironically, the answer is to try to forget what one knows and what one yet does not know - beers and wines, shalt thou not fail us! And, of course... when your brain is so twisted, it's a good escape to try to twist other people's brains too.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Como Desaparecer Completamente // How to Disappear Completely

[[English version right after the Portuguese-BR one]]

A sociedade molda os rumos de algumas pessoas. Era uma vez um rapaz extremamente bacana. Ele era paciente, atencioso, prestativo. Certo dia estava ele no trânsito de sua cidade, e deparou-se em um engarrafamento. "Sem problemas", pensou. "Tenho cá meu mp3 player, meu CD cheio de músicas legais e não estou com pressa!". Por vezes carros precisaram entrar em sua frente para cruzar a pista, e por vezes ele permitiu. Mas em dado momento, ele precisou cruzar a pista - mas carro algum lhe cedia a vez. Lá estava ele, um pacato motorista, que havia sido prestativo quando outros motoristas dele precisaram, mas motorista algum lhe era prestativo agora que ele precisava. "Se é assim que o mundo é, é assim que serei eu", pensou. Ainda era paciente, ainda era atencioso, mas não mais prestativo.

A sociedade molda os rumos de algumas pessoas. Era uma vez um rapaz muito bacana. Ele era paciente e atencioso. Sempre preocupava-se com as pessoas ao seu redor, seus amigos, colegas e familiares, sempre prestando bastante atenção em como eles se sentem, e ajudando sempre que possível. E assim foi durante um bom tempo, aconselhando, divertindo... sendo uma boa pessoa enfim. Até que um dia teve ele mesmo um problema, mas ninguém lhe deu atenção. Lá estava ele precisando de conselhos, divertimento... de boas pessoas enfim. Mas as pessoas que ele havia ajudado, já haviam se recuperado de seus problemas, e não lhe deram atenção. "Se é assim que o mundo é, é assim que serei eu", pensou. Ainda era paciente, mas não mais atencioso.

A sociedade molda os rumos de algumas pessoas. Era uma vez um rapaz bacana. Ele era paciente. Sempre levava seu filho e os filhos de alguns vizinhos mais ocupados à escola, isso não era um problema pra ele. Por vezes tais crianças atrasavam-se, por motivos diversos que não o incomodavam - devia ser um bom motivo. Seu filho chegou atrasado em diversas ocasiões ao longo dos dias, devido a tais "problemas" com as outras crianças. Mas ele nunca reclamou. Mas certa vez seu carro enguiçou. Algum problema no motor ou coisa do tipo. O fato é que, neste dia, não pôde usar o carro para levar as crianças ao colégio, e assim que pecebeu que o problema não se resolveria facilmente, ligou para alertar os vizinhos. De fato, era um dia particularmente importante na escola. E ouviu todos os tipos de reclamações dos vizinhos impacientes, irritados com a falta de aviso prévio - como se ele fosse adivinhar que o carro fosse ter problemas. "Se é assim que o mundo é, é assim que serei eu", pensou.

A sociedade molda os rumos de algumas pessoas. Era uma vez um rapaz. Ele já foi paciente, atencioso e prestativo. Outro dia eu conto pra vocês como foi que ele perdeu a honestidade...

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Society defines the ways of some people. Once upon a time a extremely nice guy. He was patient, atentious, helpful. One day he was at the his city's traffic, and found himself stuck there. "No problems", he thought. "I have my mp3 player, my CD full of cool songs, and I'm not in a hurry!". Every now and then, cars needed to come into his front to cross the road, and he allowed them. But in a given moment, he needed to cross the road - but no car would allow him. There he was, a peaceful driver, that had been helpful whenever other drivers needed him, but no driver was helpful with him when he was in need. "If this is how the world is, this is how I shall be", he thought. He was still patient and atentious, but not helpful anymore.

Society defines the ways of some people. Once upon a time a very nice guy. He was patient and atentious. He was always worried about people around him, his friends, coleagues and family, always paying them attention to how they felt, and helping whenever possible. And so it has been for quite some time, counseling, making fun... being a nice people by all means. Untill the day he had a problem himself, but no one would pay him attention. There he was in need of counseling, fun... of good people by all means. Mas the very people he had helped were already allright, and paid him no mind. "If this is how the world is, this is how I shall be", he thought. He was still patient.

Society defines the ways of some people. Once upon a time a nice guy. He was patient. Always took his kid and some busier neighbor's kids to school, that was no problem for him. More than once these kids were late, for a myriad of reasons that failed to bother him - that ought to be some good reason. His kid got late at school many times as the days went by, due to such "problems" with other children. But he never complained. But this time his car broke down. Some problem with the engine or somesuch. The fact is that, in this day, he couldn't use the car to take the kids to school, and as soon as he realized the problem wouldn't be solved easily, he called to warn the neighbors. Indeed, it was a particularly important day at school. And he heard every kind of complaints from his impatient neighbors, irked with the lack of forewarning - like he would divine the car would have problems. "If this is how the world is, this is how I shall be", he thought.

Society defines the ways of some people. Once upon a time a guy. He once was patient, atentious and helpful. Some other day I'll tell you guys how he lost his honesty...

quinta-feira, 19 de julho de 2007

A Moderna Idade da Modernidade

O que aconteceu com todo mundo?
Ou o que aconteceu comigo?

As pessoas perderam a fé.
Eu não sou uma pessoa muito religiosa, não sou muito indicado pra falar do assunto. Mas é importante. De diversas maneiras diferentes. Além do mais, a fé não é apenas ligada a religião.

As pessoas perderam a confiança.
E, o pior, é que isso é justificável. Não se dá mais carona para estranhos, pois eles podem simplesmente roubar o seu carro, ou pior; não se dá ajuda - quando se pode - ao homem desesperado chorando pela noite falando sobre sua filha pequena em casa, passando fome: ele pode estar mentindo, e isso é bastante freqüênte.
E, por isso, pessoas honestas sofrem mais. E mais.

As pessoas perderam o romantismo.
As coisas são grossas e rápidas, beijos e sexo e nada, em rápida sucessão. Nome? Conversas? Até mesmo a Internet ajuda na exclusão das relações. O MSN dificulta que as pessoas conheçam outras pessoas. Saudades do IRC... e olhem quem o diz!

Eu não sou muito bom em ignorar nenhuma dessas coisas.
E só espero que essas ignorâncias modernas não estejam na constituição em alguns anos...

quinta-feira, 12 de julho de 2007

Nostalgias e Anti-Sépticos

Uma nova banda de Jazz, uma nova banda de Emocore... Musculação e, voilá! Estou de volta ao Skate! Muito legal, embora eu esteja andando sozinho. Eu vou pra academia de Skate, aproveito o caminho pra dar uma volta e tudo o mais, e o melhor: ainda escapo da maldita esteira, que eu odeio.

Mas hoje eu não consegui chegar na academia. Tinha uma brita no meio do caminho. Tão sem propósito quanto os NPCs de Arthúnio (piada "interna". Ignore.), existia apenas pra estar lá no momento que eu passasse de Skate. Aquela poeira que veio das montanhas da Jordânia, trazida pelo vento, que conheceu e conversou com uma poeira muito simpática que formava alguma das pirâmides do Egito, e vieram parar no Brasil. Alguma mala retirou-a de seu sono milenar, deu-lhe o nome de brita e a deixou numa construção. Ela, sorrateiramente, escapou para o asfalto. E eu apareci.

A queda foi interessante. Foi violenta. Bem violenta, mas eu vivi. Eu lembrei como é sentir dor, quando eu coloquei meus inúmeros ferimentos em contato com a aparentemente inocente água do chuveiro. E anti-sépticos. Ahhh, os anti-sépticos. Eu não sei se os germes morreram, mas eu cheguei bem perto disso.

Mas eu consegui. Meu ollie saiu. Se essa queda intencionava me fazer abalar, falhou. Como já disse Fall Out Boy, "If that's the worst you got, you'd better put your fingers back to the keys". E, como diriam alguns deputados e senadores, "Eu estarei de volta às ruas em 24 horas!"

terça-feira, 10 de julho de 2007

Queremos Justiça?

É claro que não. Essa é uma daquelas frases ditas somente quando algo de ruim - ou melhor, injusto - nos acontece. É provável que muitos de nós falemos ela antes de morrer. E estaremos muito certos, claro. Nós não queremos justiça - nós queremos o que nos convém. A célebre frase cinematográfia "Você quer a verdade? Você não aguentaria a verdade!" pode ser facilmente adaptada para o que eu quero ilustrar, se mudarmos "verdade" por "justiça".

Considerando justiça não apenas uma normal legal, mas sim uma ação social para beneficiar um indivíduo que foi, de alguma forma, prejudicado por outrém, façamos uma análise baseada no meu dia-a-dia.

Lá vou eu, percorrendo a Bernardo Vieira em direção ao CEFET, e me deparo com o retorno que sempre faço. Existem uns 10 carros na minha frente, e eu me ponho atrás deles - ao contrário dos outros carros que continuam na faixa da esquerda, não entram na "faixa de retorno", e tentam furar a fila lá na frente. Eu fui injustiçado.

Fila do Caixa Rápido do supermercado. Logo depois de considerar que uma caixa de cervejas conta como um item só, estacionei na fila - onde passei 15 minutos - e esperei minha vez. Alguns metros na minha frente, estava aquele rapaz olhando para o tempo com aquele carrinho que não aguentava mais uma uva de tão cheio. E, um pouco mais a frente, quatro jovens passam uma cesta de compras para um amigo que estava quase chegando na vez. Eu fui injustiçado.

Situação hipotética mas muito comum no Brasil: você esquece o documento do carro e é parado numa Blitz. Muitas dezenas de reais em multa e alguns pontos na carteira. Basta puxar 1/3 do valor, ou menos, passar para o guarda e tudo se resolve!

Justiça? Você não aguentaria a Justiça.

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Você não consegue falar "sócio" sem dizer "ócio"

Social.
Sociedade.
Sociabilidade.

Não, obrigado. Prefiro os meus velhos amigos que acham que "Jogos Mortais" é uma merda.

P.S.: Eu já ia apertar o botão pra "Publicar Postagem" e não tinha conseguido pensar em nenhum pedaço de música pra ilustrar meu pensamento. Mas acabaram de me chegar algumas!

"The world outside my house is paved with good intentions"
(Fall Out Boy - Hum Hallelujah)

"They say quitters never win,
but we walk the plank on a sinking ship,
there's a world outside of my front door
that gets up on being down."
(Fall Out Boy - Don't You Know Who I Think I Am?)